Competição ocorrerá entre os dias 23 e 27 de outubro , em Maizières-lès-Metz, na França.
Por Leonardo Cantarelli
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Há 5 anos, João Mendes de Oliveira Júnior finalmente obteve o diagnóstico sobre os incômodos no corpo: Doença de Parkinson. Como é uma enfermidade sem cura e degenerativa, a meta é retardar o seu desenvolvimento.
Mendes, como é conhecido, procurou nesse período atividades que fizessem com que ele convivesse minimamente bem com este impasse. Em 2023, sua esposa, Norma Cristina Ferreira Amaral, viu uma postagem de um médico, em uma rede social, falando o quanto o tênis de mesa é uma atividade positiva contra esse mal. Como o problema afeta o sistema motor e o nervoso central, por conta da diminuição da produção de dopamina, as exigências do tênis de mesa, como boa coordenação e tomadas de decisões rápidas, estimulam o cérebro, e de alguma maneira, inibem o progresso do mal que leva o nome do cientista britânico , James Parkinson, que descreveu a doença no começo do século XIX.
Praticar esportes para Mendes nunca foi problema. Seu pai, João Mendes de Oliveira, paulista de Socorro, foi jogador de vôlei do Palmeiras (Palestra Itália na época) e posteriormente, seguiu atuando na SOGIPA, quando idoso. Sua irmã, Eliane Cecília dos Santos, é professora de ginástica artística, e foi treinadora de Adriana Rita Alves, técnica da Daiane dos Santos, no título mundial de 2003, nos Estados Unidos.
Mendes, na infância e na juventude, praticou vôlei, basquete e judô. Tênis de mesa jogava por recreação com amigos e familiares. Funcionário na Petrobrás, há 25 anos, ele perguntou se alguém conhecia um local para praticar tênis de mesa e indicaram-lhe, Albair Camargo, que já estava aposentado da empresa, e é uma das referências da modalidade no estado.

Mendes durante treinamento em São Leopoldo/RS. Imagem: Divulgação.
Bita, como é conhecido, disse para Mendes ir à Sociedade Ginastica de São Leopoldo, projeto que ele estruturou e é um dos clubes mais tradicionais do Rio Grande do Sul.
“É curioso pensar, que eu nasci em São Leopoldo e não tinha vínculo com o local. Me criei em Porto Alegre e nunca mais tinha voltado à cidade que nasci. Retornei apenas para jogar tênis de mesa, que ajudaria no meu tratamento da doença.”, disse Mendes, em entrevista exclusiva ao tenisdemesagaucho.org.
“ Posteriormente, pesquisei treinamentos e horários na SOGIPA, mas os de São Leopoldo estavam mais de acordo com a minha rotina”, emendou o atleta de 62 anos.
Durante treinos e jogos, o que a doença mais o atrapalha é na hora do saque, devido ao tremor na mão esquerda.
“Eu sou destro e o meu problema de tremer sempre foi com a mão esquerda. Por volta dos 40 anos, eu sentia pequenos tremores e que depois se agravaram. Então, durante a disputa do ponto, não tenho problemas, mas, para sacar as vezes fica complicado, pois, tem que por a bolinha na palma da mão, equilibrá-la e levantá-la. Quando a mão treme, o movimento fica prejudicado. Nessas situações tem que relaxar e fazer meditação, para voltar ao normal”, relatou.
Além dos treinamentos que faz com a Sociedade Ginástica, às terças e quintas-feiras, há às quartas e alguns sábados, um treino específico com o técnico Humberto Schmidt. Este afirma não passar nenhuma atividade específica para o seu aluno, por conta da doença.
“É muito bom treinar o Mendes. É um aluno dedicado em todos os exercícios, empolgado com o esporte e disposto a melhorar. O treinamento com ele na verdade é simples e é o mesmo que uso com outros atletas da equipe. Se deixar o Mendes fica treinando por horas, acho que eu canso antes dele (risos)”, disse Schmidt.
Há 8 meses se dedicando ao tênis de mesa, Mendes disse não saber precisar se houve melhoras em relação ao Parkinson.
“A Doença de Parkinson ainda é pouco estudada e isso faz com que não se tenham diagnósticos mais precisos do que melhora ou não. Dizem que o tênis de mesa ajuda a retardar os avanços dela e eu não sei exatamente ainda sobre o meu caso. Acredito que se não estivesse praticando o tênis de mesa, provavelmente eu estaria pior”, relatou, o jogador que é formado em Engenharia Elétrica.
“ Na verdade, a doença começou a ter mais destaque quando o ator Michael J. Fox e o músico Nenad Bach, falaram abertamente sobre o mal que eles sofrem. Isto acaba chamando mais a atenção da mídia e , por consequência, da medicina. Por isso, ainda faltam resultados mais precisos sobre o que se pode fazer contra o Parkinson”, emendou.
No segundo semestre de 2024, João Mendes disputou seus primeiros campeonato: os estaduais de Vale Real e Antônio Prado, além do Challenge Plus de Caxias do Sul. Entre os dias 23 e 27 de outubro, ele disputará seu primeiro torneio longe do Rio Grande do Sul. Em Maizières-lès-Metz, na França, haverá a quarta edição do Campeonato Mundial de Parkinson. Além da competição, haverá um congresso com especialistas que buscam combater a doença.
“Encaro este torneio como um investimento na saúde. Quero conhecer e interagir com pessoas que sofrem do mesmo mal que eu e trocar experiências, vendo o que eles fizeram e o que eu posso aplicar ao meu cotidiano. Além, claro, de aprender sobre tênis de mesa e ir o mais longe possível na competição”, relatou o gaúcho.
“Minha expectativa é que ele consiga colocar em prática o que viemos treinando nas últimas semanas com a nova borracha de pino longo no backhand, além de algumas jogadas estratégicas a partir do saque e terceira bola de forehand. Espero que ele possa ter um bom desempenho, mas acima de tudo que se divirta tanto quanto nos divertimos nos nossos treinos semanais”, emendou o treinador Schmidt.
O que é o torneio?
O World Parkinson’s Table Tennis Championship vai para a sua quarta edição. A primeira foi nos Estados Unidos em 2019, seguido da Alemanha em 2021 e da Grécia em 22. Para participar da competição, o interessado necessita preencher uma ficha dizendo há quanto tempo possui a doença, o estágio dela e que tipos de cuidados necessita. Em seguida, há questionários se já jogava tênis de mesa antes do problema ou se começou a praticar depois e há quanto tempo está treinando e disputando torneios. Com estes dados, eles dividem os participantes em três categorias (três torneios): 1, 2 e 3. Sendo esta última, estando os atletas com problemas mais sérios em relação ao Parkinson. Após a avaliação, cada participante recebe um nota de 0 a 100, para saber em qual estágio está sua condição jogador/atleta, como justificativa das classificações ‘1,2 e 3’. Quanto maior a nota, mais grave é a situação do jogador.
Um destaque nacional é Roberto Morand, que foi medalha de bronze (individual e duplas) nos EUA e campeão por duplas na Alemanha. Ele, ao lado de Mendes, são os dois brasileiros inscritos na competição. Até a publicação da matéria, não havia informações de quais categorias eles foram inseridos.
Quem quiser saber mais informações sobre o evento, clique no link abaixo (em inglês):
‘Encaro como algo que tinha que acontecer e preciso enfrentá-la’
Ter uma doença degenerativa, e sem cura, não é fácil. Para encarar a situação, é necessário ter uma boa saúde mental, para buscar alternativas para o retardo da enfermidade e viver da melhor forma possível. É com este pensamento, que João Mendes, encara isto há 5 anos.
“Não tenho problema emocional com a doença. As questões são físicas. Penso que existem doenças piores. Todo mundo passará por algum problema de saúde. Eu encaro como algo que tinha que acontecer e preciso enfrentá-la. Vi ali uma oportunidade para conhecer o tênis de mesa. Minha nova paixão", finalizou.
Parabéns pelo grande exemplo de vida que nos dás, Mendes! E que bom que te apaixonaste por este esporte maravilhoso que é o tênis de mesa!
Ah, e muito boa sorte no evento na França que acredito que será incrível de qualquer forma oara ti!
Matéria espetacular, Cantarelli! Aprendi muito com ela e também fiquei fascinado com os depoimentos dados, principalmente pelo disse o Mendes.